Perspectivas do setor de transporte e logística para retomada da Ferrogrão

A construção da Ferrogrão tem sido um dos projetos mais debatidos no setor de transporte e logística nos últimos anos. O projeto estava parado devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), resultado de uma ação do partido Psol que argumentava sobre os impactos ambientais da obra. Com o andamento da análise na Suprema Corte, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, irá analisar as sugestões do Centro de Soluções Alternativas de Litígios (Cesal) e depois deve ouvir as partes envolvidas para tentar chegar a um acordo. Em um contexto de debate sobre a necessidade de retomar os estudos e processos administrativos relacionados à realização dessa ferrovia, a reportagem conversou com Rui Marques Lourenço, Presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado do Pará (SINDOPAR), para entender as perspectivas do setor para essa retomada.

Rui Lourenço afirmou que a expectativa é que o projeto seja aprovado e defende que haja equilíbrio nas decisões para que haja benéfico para todos: “A perspectiva é que este projeto seja aprovado e que de fato entre em vigor, pois através dele o país terá grandes melhorias não apenas econômica, mas também social e ambiental, uma vez que, através da construção da ferrovia, teremos alterações nos valores dos fretes, mais geração de empregos e diminuição na emissão de gases poluentes”.

Região de escoamento da produção agrícola e constante movimentação de cargas, o Pará tem enfrentado sérios problemas em relação aos congestionamentos e à ineficiência das rodovias, o que tem impactado negativamente o setor produtivo e os custos de transporte. A falta de investimentos em infraestrutura e a crescente demanda por transporte têm contribuído para o aumento dos congestionamentos, impedindo um escoamento eficiente da produção. Para Lourenço, o projeto da Ferrogrão é a melhor alternativa para amenizar essa situação: “Atualmente o projeto do Ferrogrão é a melhor alternativa para amenizar a situação que vivemos nas rodovias, pois para escoar as cargas utilizamos as ferrovias em combinação com as hidrovias, permitindo que as cargas cheguem com mais rapidez e eficiência no Porto de Vila do Conde (Barcarena). Diminuindo o fluxo rodoviário, consequentemente diminuímos os desgastes nas rodovias e aumentamos a satisfação das comunidades ao redor do porto, dos clientes que passarão a ter um serviço com mais qualidade e sobretudo a segurança que será maior tanto para os trabalhadores quanto para moradores. Todos os operadores portuários contam com esse avanço para melhorar a qualidade nos serviços realizados, afinal, é preciso inovar nos modais logísticos do país, sobretudo em ferrovias e hidrovias”, explica.

Quando perguntado se os desafios enfrentados na obtenção de dados quanto aos impactos dos projetos nas comunidades afetadas seriam a razão da parada do projeto, o presidente do SINDOPAR afirmou que é necessário realizar estudos e análises cuidadosas. “Não posso afirmar que este seja o real motivo para o projeto não avançar, o que posso afirmar é que, de fato tudo, precisa ser estudado e analisado cuidadosamente, pois o projeto é muito bom e importante para vários segmentos, mas ele precisa ser bom para todos, então se houver equilíbrio nas decisões, o nosso país só tem a ganhar, afinal é necessário avançar em busca de melhorias, mas sem perder o que já temos de bom”, disse.

Segundo informações do Ministério dos Transportes, a construção da Ferrogrão tem custo estimado em R$21 bilhões, com o potencial de gerar 373 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, o empreendimento que cortará a Amazônia, resultará em uma economia de R$6,1 bilhões em externalidades negativas da rodovia, como emissões de CO2, acidentes e congestionamentos. O investimento também proporcionará uma arrecadação tributária de R$625 milhões, além de R$5,3 bilhões durante a operação. Outro benefício significativo apontado, é a redução do custo do frete em R$19,2 bilhões em comparação com a rodovia BR-163.

Na sexta-feira, 11 de agosto, o projeto Ferrogrão foi incluído no Novo PAC e terá investimentos previstos até 2026. O Governo Federal ainda não divulgou o valor destinado ao projeto, mas está planejando estudos para novas concessões a fim de atender às demandas da Justiça. O mapa do PAC inclui investimentos em “estudos de novas concessões” para o projeto. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), vinculada ao Ministério do Transporte, será responsável pela condução das obras, embora não haja prazo estimado para a conclusão.


A Série de “Ferrogrão: O Dilema entre o Desenvolvimento Econômico e a Proteção Socioambiental”, do Portal Barcarena, aborda o debate em torno do projeto da Ferrogrão (EF-170), que tem despertado controversas opiniões quanto aos impactos socioambientais e apresenta o posicionamento de autoridades e organizações interessadas no andamento da obra, além de analisar as consequências da Ferrogrão para o Porto de Vila do Conde.

Por Edinei Campos – Portal Barcarena